Era uma vez dois irmãos, sendo um muito rico e mesquinho e outro muito pobre e humilde. Certo dia chegando ao natal o irmão pobre foi se ver com o irmão rico pois não tinha nada para comer. Assim chegou bateu na imensa porta da mansão de seu irmão.
- O que venhas a fazer aqui? Não sabes que é natal? Vá embora! - disse o irmão rico
- ô meu irmão tem piedade, só quero te pedir um pouco de comida para a ceia de natal.
O irmão rico não queria dar, mas o irmão pobre tanto insistiu que ele atirou um pacote de presunto empurrando o irmão pobre para fora da casa.
-Pegue esse presunto e não me procure nunca mais!- disse o irmão rico batendo a porta
Lá foi então o pobre irmão levantando do chão e pegando o pacote de presunto e rumando á caminho de casa, satisfeito por ter encontrado algo para comer. No caminho de volta a sua casa um velho os chamou:
-Pobre senhor venha cá. - disse o velho - Como conseguiste este presunto?
Ao explicar a situação ocorrida ao velho este mesmo falou:
-Escute aqui, porque tu não vai a ilha dos anões, eles adoram presunto, com isso você tenta trocar por um moinho. O moinho dele é mágico. Se você conseguir poderá ter o que quizer.
Depois de escutar o conselho do velho, o pobre irmão foi até a ilha dos anões. Os anões ao verem o pacotão de presunto invadiu o irmão pobre perguntando o que lhe trazia ali, cheio de água na boca com muita vontade de comer o presunto.
-Venho trazer este presunto em troca de um moinho que vocês tem aqui. - disse o irmão pobre
-Não, nós não podemos trocar aquele moinho! - disse um dos anoes
-Mas estou com tanta vontade de comer esse presunto - disse mais um dos anoes
Tanto falou, tanto insistiu que finalmente acabaram trocando o presunto com o moinho. Logo então um dos anões disse ao pobre irmão:
- Aqui está o moinho senhor, para ele moer você diz: "mói, moinho! Moa arroz!" e ele moerá arroz, quando chegar á quantidade desejada ao parar você terá que dizer "obrigado moinho, obrigado".
Entendendo tudo os conselhos dos anões e suas explicações, o pobre irmão saiu de lá muito contente com o resultado que acabara de conseguir, foi logo correndo pra casa para contar a novidade a sua mulher, que morrendo de fome, esperava o marido para a ceia de natal.
Mal chegou já foi contando tudo o ocorrido para sua mulher que achou tudo muitíssimo interessante e um extremo milagre.
Pediram o moinho para moer vários tipos de comidas, convidaram os vizinhos, e enfim, tiveram a melhor ceia de natal que um pobre poderia ter.
O irmão pobre sempre ajudava as pessoas com ultilização do moinho:
- Mamãe mandou pedir arroz ela esta sem - dizia uma criança
- Mói, moinho! Moa arroz - falou o irmão pobre
- Obrigado moinho! Obrigado! - disse ele novamente ao receber uma boa quantidade de arroz - Toma aqui leve pra sua mae!
- Obrigado tio! - falou a criança saindo contente
A história do moinho espalhou para toda a vila, e depois, para toda a cidade até chegar nos ouvidos de um velho pescador, que ao pensar que o moinho podia moer tudo que quizesse, não resolveu perder tempo trabalhando ele queria já pegar o moinho para ele. E lá se foi o velho pescador na casa do pobre irmão. Lá ele viu eles mandarem o moinho moer porém não assistiu todo o processo, marcou o lugar, esperou anoitecer, quando todos estavam dormindo ele roubou o moinho, correu, entrou no seu barco e partiu para auto mar com uma imensa gargalhada.
-Muhuahuahuha! Ninguém será mais rico que eu! Eu fabricarei sal e serei o homem mais rico deste planeta.
Enfim ele colocou o moinho em cima de uma cadeira e disse:
-Mói, moinho! Moa sal!
E lá se foi o moinho moendo sal, sal e mais sal... Quando o velho pescador notou que ja estava bom a quantidade de sal ele ordenou:
-Pare de moer moinho!
E nada de acontecer, ele gritou tentou mudar de fala disse: "chega para de moer", "eu disse para de moer seu surdo", bateu no moinho e nada de parar de moer sal. O barco foi-se enchendo de sal, sal e mais sal. Afundou-se então o velho pescador ficou mais pobre do que nunca pois perdera seu barco que era na verdade toda sua fortuna. E o moinho coitado foi parar no fundo do mar sem parar de moer sal, deve de estar lá até agora moendo sal, sal e mais sal... Dizem que por isso que o mar é salgado!
A lenda do moinho mágico (pq o mar é salgado)
Os três conselhos
Um casal de jovens recém-casados, era muito pobre e vivia de favores num sítio do interior. Um dia o marido fez a seguinte proposta para a esposa:"Querida eu vou sair de casa, vou viajar para bem longe, arrumar um emprego e trabalhar até ter condições para voltar e dar-te uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo vou ficar longe, só peço uma coisa, que você me espere e enquanto eu estiver fora, seja FIEL a mim, pois eu serei fiel a você".
Assim sendo, o jovem saiu. Andou muitos dias a pé, até que encontrou um fazendeiro que estava precisando de alguém para ajudá-lo em sua fazenda.
O jovem chegou e ofereceu-se para trabalhar, no que foi aceito. Pediu para fazer um pacto com o patrão, o que também foi aceito.
O pacto foi o seguinte:
"Me deixe trabalhar pelo tempo que eu quiser e quando eu achar que devo ir, o senhor me dispensa das minhas obrigações.
EU NÃO QUERO RECEBER O MEU SALÁRIO. Peço que o senhor o coloque na poupança até o dia em que eu for embora.
No dia em que eu sair o senhor me dá o dinheiro e eu sigo o meu caminho".
Tudo combinado. Aquele jovem trabalhou DURANTE VINTE ANOS, sem férias e sem descanso. Depois de vinte anos chegou para o patrão e disse:
"Patrão, eu quero o meu dinheiro, pois estou voltando para a minha casa".
O patrão então lhe respondeu:
"Tudo bem, afinal, fizemos um pacto e vou cumpri-lo, só que antes quero lhe fazer uma proposta, tudo bem?
Eu lhe dou o seu dinheiro e você vai embora, ou LHE DOU TRÊS CONSELHOS e não lhe dou o dinheiro e você vai embora. Se eu lhe der o dinheiro eu não lhe dou os conselhos, se eu lhe der os conselhos, eu não lhe dou o dinheiro. Vá para o seu quarto, pense e depois me dê a resposta".
Ele pensou durante dois dias, procurou o patrão e disse-lhe:
- "QUERO OS TRÊS CONSELHOS".
O patrão novamente frisou:
"Se lhe der os conselhos, não lhe dou o dinheiro".
E o empregado respondeu:
"Quero os conselhos".
O patrão então lhe falou:
1. "NUNCA TOME ATALHOS EM SUA VIDA. Caminhos mais curtos e desconhecidos
podem custar a sua vida.
2. NUNCA SEJA CURIOSO PARA AQUILO QUE É MAL, pois a curiosidade pro mal
pode ser mortal.
3. NUNCA TOME DECISÕES EM MOMENTOS DE ÓDIO OU DE DOR, pois você pode se
arrepender e ser tarde demais."
Após dar os conselhos, o patrão disse ao rapaz, que já não era tão jovem assim:
"AQUI VOCÊ TEM TRÊS PÃES, estes dois são para você comer durante a viagem e este terceiro é para comer com sua esposa quando chegar a sua casa".
O homem então, seguiu seu caminho de volta, depois de vinte anos longe de casa e da esposa que ele tanto amava.
Após primeiro dia de viagem, encontrou um andarilho que o cumprimentou e lhe perguntou:
"Pra onde você vai?" - Ele respondeu:
"Vou para um lugar muito distante que fica a mais de vinte dias de caminhada por essa estrada".
O andarilho disse-lhe então:
"Rapaz, este caminho é muito longo, eu conheço um atalho que é dez, e você chega em poucos dias".
O rapaz contente, começou a seguir pelo atalho, quando lembrou-se do primeiro conselho, então voltou e seguiu o caminho normal.
Dias depois soube que o atalho levava a uma emboscada.
Depois de alguns dias de viagem, cansado ao extremo, achou pensão à beira da estrada, onde pode hospedar-se.
Pagou a diária e após tomar um banho deitou-se para dormir.
De madrugada acordou assustado com um grito estarrecedor. Levantou-se de um salto só e dirigiu-se à porta para ir até o local do grito.
Quando estava abrindo a porta, lembrou-se do segundo conselho. Voltou, deitou- se e dormiu.
Ao amanhecer, após tomar café, o dono da hospedagem lhe perguntou se ele não havia ouvido um grito e ele disse que tinha ouvido.
O hospedeiro: e você não ficou curioso?
Ele disse que não.
No que o hospedeiro respondeu: VOCÊ É O PRIMEIRO HÓSPEDE A SAIR DAQUI
VIVO, pois meu filho tem crises de loucura, grita durante a noite e quando o hóspede sai, mata-o e enterra-o no quintal.
O rapaz prosseguiu na sua longa jornada, ansioso por chegar a sua casa.
Depois de muitos dias e noites de caminhada...
Já ao entardecer, viu entre as árvores a fumaça de sua casinha, andou e logo viu entre os arbustos a silhueta de sua esposa. Estava anoitecendo, mas ele pode ver que ela não estava só. Andou mais um pouco e viu que ela tinha entre as pernas, um homem a quem estava acariciando os cabelos.
Quando viu aquela cena, seu coração se encheu de ódio e amargura e decidiu-se a correr de encontro aos dois e a matá-los sem piedade.
Respirou fundo, apressou os passos, quando lembrou-se do terceiro conselho.
Então parou, refletiu e decidiu dormir aquela noite ali mesmo e no dia seguinte tomar uma decisão. Ao amanhecer, já com a cabeça fria, ele disse:
"NÃO VOU MATAR MINHA ESPOSA E NEM O SEU AMANTE. Vou voltar para o meu patrão e pedir que ele me aceite de volta.
Só que antes, quero dizer a minha esposa que eu sempre FUI FIEL A ELA".
Dirigiu-se à porta da casa e bateu. Quando a esposa abre a porta e o reconhece, se atira em seu pescoço e o abraça afetuosamente. Ele tenta afastá-la, mas não consegue. Então com as lágrimas nos olhos lhe diz:
"Eu fui fiel a você e você me traiu... Ela espantada lhe responde:
- "Como? eu nunca lhe trai, esperei durante esses vintes anos. Ele então lhe perguntou:
"E aquele homem que você estava acariciando ontem ao entardecer? E ela lhe disse:
"AQUELE HOMEM É NOSSO FILHO. Quando você foi embora, descobri que estava grávida. Hoje ele está com vinte anos de idade".
Então o marido entrou, conheceu, abraçou o filho e contou-lhes toda a sua história, enquanto a esposa preparava o café.
Sentaram-se para tomar café e comer juntos o último pão.
APÓS A ORAÇÃO DE AGRADECIMENTO, COM LÁGRIMAS DE EMOÇÃO, ele parte o pão e ao abri-lo encontra todo o seu dinheiro, o pagamento por seus vinte anos de dedicação.
Muitas vezes achamos que o atalho "queima etapas" e nos faz chegar mais rápido, o que nem sempre é verdade...
Muitas vezes somos curiosos, queremos saber de coisas que nem ao menos nos dizem respeito e que nada de bom nos acrescentará... Outras vezes, agimos por impulso, na hora da raiva, e fatalmente nos arrependemos depois...
Espero que você, assim como eu, não se esqueça desses três conselhos e que, principalmente, não se esqueça de CONFIAR em DEUS (mesmo que a vida muitas vezes já tenha te dado motivos para a desconfiança).
O Gato de botas
O GATO DE BOTAS
“Trago um coelho da floresta que o senhor Marquês de Carabá (foi o primeiro nome que lhe veio à cabeça) me encarregou de vos oferecer como presente”
“Agradeço o presente que seu amo me oferece, e diga-lhe que fico muito grato”, disse o rei.
No dia seguinte, o gato foi de novo para o mato, e repetiu tudo de novo, se fingindo de morto com o saco aberto e cheio de trigo e alface. Só que desta vez foram duas perdizes que se enfiaram dentro do saco. O gato as matou, e levou para o rei, falando novamente em nome do Marquês de Carabá.
Isso durou uns três meses, nos quais, quase diariamente, o gato levava caças ao rei em nome de seu amo. Até que um dia o gato ficou sabendo que o rei pretendia na manhã seguinte sair a passeio, com sua linda filha, pela margem do rio. O gato disse então a seu amo “Se quiser se dar bem siga agora o meu conselho, e sua fortuna está feita; tudo que precisa fazer é ir tomar banho no rio no lugar que eu lhe mostrarei. Relaxe e deixe que eu tome conta de todo o resto”.
O Marquês de Carabá fez tudo que o gato o aconselhava, mesmo não fazendo a menor idéia do que ia acontecer. Enquanto se banhava no rio, o rei passou por ali, e o gato, que estava preparado para esse momento, começou a gritar com toda a força que podia: “Socorro! Socorro! Meu senhor, o Marquês de Carabá, está se afogando!”
Gritou tão alto que acabou chamando a atenção do rei, que pôs a cabeça para fora da carruagem e reconheceu o gato que tantas vezes lhe levara caça como presente em nome do Marquês de Carabá.
O rei então ordenou a seus guardas que fossem ajudar, e rapidamente o pobre Marquês de Carabá foi salvo da morte, segundo acreditava o rei.
Enquanto isso o gato foi até o rei e disse que, enquanto o seu amo tomava banho, ladrões haviam aparecido e roubado todo o dinheiro e todas as roupas, e o gato ainda disse que por mais que gritasse com todas as suas forças: “Ladrões! Alguém ajude!”, ninguém apareceu para ajudar, até que por sorte o rei passasse por ali para salvar seu amo.
Na verdade, o gato havia escondido as roupas debaixo de uma pedra, e dinheiro não havia nenhum.
Assim que o Marquês de Carabá estava salvo, o rei ordenou a seus serviçais que fossem buscar o mais belo traje que fosse encontrado em seu guarda-roupa para cobrir a nudez do Marquês. O rei o cumprimentou, e as belas roupas que o Marquês estava vestindo realçavam sua beleza natural e faziam com que ninguém fosse capaz de imaginar que não fosse nobre. A filha do rei o achou muito atraente, e mal o rapaz lhe dirigiu um olhar mais intenso e ela já ficou loucamente apaixonada.
O rei quis que o Marquês fosse passear com ele e com sua filha. O gato ficou encantado ao ver que tudo acontecia conforme o seu plano, e conforme já havia planejado, seguiu na frente, e encontrando alguns camponeses ceifando em um prado, disse a eles “Minha boa gente que está aqui ceifando este campo, se quiserem continuar vivos digam ao rei quando passar por aqui que o prado que estão ceifando pertence ao senhor Marquês de Carabá. Se não disserem isso, serão picados em pedacinhos como recheio de lingüiça”.
Logo chegou o rei e de fato teve curiosidade de perguntar aos camponeses de quem era aquele campo que ceifavam. “Pertence ao senhor Marquês de Carabá” responderam todos, porque ficaram com muito medo das ameaças do gato e não tinham o menor desejo de morrer.
“É um belo patrimônio, esse que o senhor tem”, disse o rei ao Marquês de Carabá.
“Saiba Vossa Majestade” respondeu o Marquês, “que esse prado produz uma grande colheita todos os anos”.
O gato continuou indo à frente, e logo encontrou alguns camponeses colhendo, e disse a eles “Minha boa gente que está aqui colhendo, se quiserem continuar vivos digam ao rei quando passar por aqui que todo este trigo que estão pertence ao senhor Marquês de Carabá. Se não disserem isso, serão picados em pedacinhos como recheio de lingüiça”.
Logo chegou o rei e de fato teve curiosidade de perguntar aos camponeses de quem era aquele campo que ceifavam. “Pertence ao senhor Marquês de Carabá” responderam todos, já que estavam apavorados com as ameaças do gato. Novamente, o rei felicitou o Marquês pela sua imensa riqueza.
O gato, que ia sempre adiante da carruagem, dizia sempre as mesmas coisas, ameaçando de morte todos os camponeses que não dissessem que as terras em que estavam trabalhando pertenciam ao Marquês de Carabá. E o rei foi se tornando cada vez mais espantado com as riquezas gigantescas do Marquês, que a essa altura do passeio ele já calculava ser muito maior do que a sua.
O gato então chegou a um belo castelo que pertencia a um ogro. O ogro era riquíssimo, pois todas aquelas propriedades pelas quais o rei havia passado e que acreditava serem propriedades do Marquês na verdade pertenciam ao ogro. O gato pediu uma audiência alegando que desejava conhecer um senhor tão rico e poderoso. Na verdade o gato já havia se informado sobre o ogro e tinha um plano em mente.
O ogro o recebeu com toda a cortesia e o convidou a sentar.
“Ouvi dizer”, disse o gato, “que o senhor tem o poder de se transformar em qualquer tipo de animal, que poderia se quisesse, por exemplo, se transformar em um leão ou em um elefante”.
“É a mais pura verdade”, respondeu bruscamente o ogro, “e para provar isso agora mesmo, vou me transformar em leão, como você sugeriu”.
No instante em que terminou de falar, o ogro se transformou em um leão. O gato ficou apavorado e foi se esconder no telhado, no qual subiu com grande dificuldade por causa das botas.
Pouco tempo depois, o ogro voltou à sua forma original, e o gato desceu e confessou estar muito impressionado com o poder do ogro.
Enquanto isso o rei viu o belo castelo do ogro e decidiu conhecer o dono de tão magnífica propriedade. O gato ouviu o ruído da carruagem passando sobre a ponte levadiça e correu para frente do castelo para receber o rei. Assim que o rei chegou, o gato disse:
“Vossa Majestade é bem-vinda ao castelo do Marquês de Carabá”
“Senhor Marquês, escondeu de mim que este castelo também é seu? Creio que queria me surpreender! Pois saiba que conseguiu, jamais vi castelo com pátio tão belo nem construções tão magníficas. Gostaria de ver como ele é por dentro, se o senhor me permitir”.
O Marquês deu a mão à princesa e os dois seguiram o rei subindo a escadaria do palácio e entrando em um grande salão, onde encontraram servida uma deliciosa refeição, que o ogro havia mandado servir para um grupo de convidados que, quando souberam que o rei estava lá, não ousaram interromper nem quiseram questionar o que estava acontecendo no castelo.
Encantado com as riquezas do Marquês de Carabá, e vendo que sua filha estava apaixonada, o rei resolveu unir o útil ao agradável e disse “Se quiser ser meu genro, só precisa dizer sim”.
O Marquês disse “sim!” e nesse mesmo dia ocorreu o casamento.
O gato passou a ser um grande senhor e passou a só caçar ratos e camundongos por esporte.
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A Bela e a Fera ( A Bela e o Monstro)...
A Bela e a Fera (A Bela e o Monstro em Portugal) é um Conto de fadas, escrito por Madame Jeanne-Marie de Beaulmont. Veja abaixo o conto:
Num golpe do destino, da noite para o dia o negociante perdeu tudo que tinha, ficando sem sua fortuna. Só lhe restou uma pequena casa de campo, bem longe da cidade. Desolado contou aos filhos o que sucedera e que teriam de ir morar no campo, trabalhando como camponeses para sobreviver. As duas filhas mais velhas ficaram furiosas, disseram que não deixariam a cidade, que tinha, vários admiradores que ficariam felicíssimos em se casar com elas, apesar de não terem mais fortuna. Bem se vê que essas pobres criaturas nada conheciam da vida e estavam completamente enganadas. Seus admiradores não queriam mais nem olhar pra elas agora que estavam pobres. Ninguém gostava delas por causa de sua soberba e agora diziam: “Chegou a hora das grandes damas pastorearem carneiros no pasto”. Mas ao mesmo tempo todo o mundo repetia: “Quanto a Bela temos muita pena de seu infortúnio. É uma moça tão boa! Trata os pobres com tanta bondade, é tão carinhosa, tão virtuosa...”.
Muitos fidalgos quiseram se casar com Bela, embora ela não tivesse mais nem um tostão, e a todos ela explicava que não podia abandonar seu pai agora que estava na miséria, que iria com ele para o campo e o ajudaria em tudo que precisasse. No começo Bela ficou muito abatida por sua família ter perdido a fortuna, mas refletiu e percebeu que chorar e sofrer não devolveria sua antiga situação de opulência: “Tenho tratar de ser feliz sem ela”.
Já morando em sua casa nova no campo o negociante e os filhos passavam o dia lavrando a terra. Bela acordava de madrugada e já começava a limpar toda a casa e fazer o café da manhã para toda família. No começo foi muito difícil, pois não estava acostumada a trabalhar como uma criada, mas com o passar do tempo o trabalho tornou-a forte e mais saudável. Quando terminava seus afazeres ainda lia, tocava cravo ou cantava enquanto fiava. Suas duas irmãs, por outro lado, passavam o dia sem fazer nada, não davam a menor ajuda e morriam de tédio. Acordavam quando a manhã já ia alta e passeavam o dia inteiro pela propriedade só se lamentando pela perda da posição, das festas e roupas que não tinham mais.
“Veja só a nossa irmã”, diziam, referindo-se a Bela, “é tão grosseira e estúpida que está contente com a sua situação!
O bom negociante ficava muito incomodado com o jeito das filhas mais velhas tratarem Bela, pois sabia que ela era uma moça especial, ao contrário das irmãs, tão frívolas. Admirava as virtudes dessa filha, e, sobretudo a sua paciência, pois as irmãs, além de descarregar todo trabalho doméstico nas costas da caçula, insultavam-na a todo instante.
Já se passara um ano desde que a família estava nesta situação quando o negociante recebeu uma carta informando que um navio, que trazia mercadorias suas, acabava de atracar com segurança. As irmãs mais velhas ficaram alucinadas com essa notícia, achando que finalmente iriam voltar à cidade e se libertar da vida no campo que tanto odiavam. Acompanharam o pai até a porta pedindo que ele lhes trouxesse ricos presentes, vestidos, jóias, perucas, adornos e tudo de caro que pudessem carregar. Bela não pediu nada, pois pensou consigo mesma que todo dinheiro que seu pai ganhasse com as mercadorias não seria suficiente para comprar tudo que as irmãs desejavam
“Bela, o que você quer de presente?”, perguntou o pai.
“A única coisa que eu gostaria de ganhar é uma rosa, pois essa flor não cresce aqui”.
As irmãs começaram a zoar chamando Bela de simplória, mas como sempre A jovem ignorou-as.
O negociante partiu. Chegando ao porto teve a triste surpresa de descobrir que estava pobre como antes, pois suas mercadorias tinham problemas legais e só lhe deram contrariedades. Só faltavam poucos quilômetros para chegar a casa e ele já sentia o prazer de rever os filhos. Antes de chegar, porém, tinha de atravessar um enorme bosque ela ele se perdeu. Andou em círculos por muitas horas em meio a uma terrível tempestade de neve e sob um vento tão forte que mais de uma vez chegou a derrubá-lo do cavalo. Quando a noite caiu, exausto, faminto e meio desesperado pensava que morreria de fome ou de frio, ou que seria comido pelos lobos que ouvia uivar à sua volta.
Inesperadamente, ao fim de um comprido túnel de árvores, viu uma forte luz que brilhava, mas parecia estar ainda muito distante. Segui rumo àquela direção e viu que a luz saia de um grande palácio, todo iluminado. O negociante agradeceu à Deus pelo socorro que lhe enviara e tratou de chegar o mais rápido possível àquele castelo. Ficou surpreso ao notar que os pátios estavam desertos, não tinha uma viva alma. Seu cavalo, que o seguia, entrou sozinho ao ver um grande estábulo vazio. Lá encontrou feno e aveia, e o pobre animal, que estava morto de fome, pôs-se a comer com apetite voraz. O negociante o amarrou no estábulo e dirigiu-se ao castelo. Não havia ninguém à vista, mas, tendo entrado num amplo salão, encontrou um bom fogo e uma mesa farta de boa comida, com prato e talheres para apenas uma pessoa. Como estava encharcado até os ossos pela neve e chuva que tomara, aproximou-se do fogo para se aquecer, pensando consigo mesmo: “O dono da casa ou seus criados perdoarão a liberdade que tomei. Provavelmente logo vão aparecer”!
Esperou durante longo tempo, aproximava-se a meia-noite e cansado de esperar e faminto não resistiu mais: comeu com gosto um frango apetitoso que estava a sua frente, serviu-se do vinho e comeu até fartar-se. Já refeito do cansaço e mais animado, saiu da sala e atravessou vários salões magnificamente mobiliados. Finalmente encontrou um quarto onde havia uma cama. Passava da meia-noite, ele estava exausto, fechou a porta e foi dormir.
No dia seguinte quando se levantou passava das dez horas da manhã. Para sua surpresa encontrou uma roupa nova e limpinha no lugar da sua, que havia se estragado na tempestade. “Com certeza”, pensou consigo mesmo, “este palácio pertence a uma boa fada que teve piedade da minha situação”.
Olhou pela janela e viu que não havia mais o menor resquício da terrível tempestade da noite anterior, não havia mais neve, mas alamedas rodeadas por flores que encantavam a vista. Voltou para o salão onde ceara na noite anterior e encontrou um chocolate quente sobre a mesa.
“Muito obrigada senhora fada”, falou em voz alta, “por ter tido a bondade de me servir esse café da manhã”.
Tomou seu chocolate e foi em busca de seu cavalo, preparando-se para partir. Ao passar pelo canteiro de rosas lembrou - se do pedido da filha e colheu um ramo com várias flores. No mesmo instante ouviu soar um barulho assustador e aproximou-se dele uma fera tão medonha que ficou petrificado, não conseguia se mover.
Com um vozeirão terrível a fera lhe disse: “O senhor é um ingrato. Salvei sua vida, recebi-o no meu castelo e, para minha decepção o senhor rouba minhas rosas, que amo mais do que tudo no mundo. Só a morte para reparar esse erro. Dou-lhe dez minutos para rezar à Deus ou ao Diabo, o senhor é quem escolhe, antes de morrer.”
O negociante ficou desesperado, ajoelhou-se e suplicou ao monstro: “Perdoai-me Vossa Alteza, colhi uma rosa na melhor das intenções apenas para atender ao pedido de uma das minhas filhas, não tive intenção de ofendê-lo.”
“Não me chamo Vossa Alteza”, respondeu o monstro, “não tenho nome, pode me chamar de Fera”. E não tolero elogios, gosto da franqueza, que se diga o que pensa. Não tente me comover puxando meu saco com bajulações, mas disponho-me a perdoá-lo com a condição que sua filha, a que pediu a rosa ,voluntariamente se ofereça para morrer em seu lugar. E não me venha com histórias. Parta imediatamente e jure que se sua filha se recusar a morrer por você, estará de volta daqui a três dias.
O negociante não tinha intenção de sacrificar nenhum de seus filhos àquele monstro malvado, mas pensou: “Ao menos poderei abraçar meus filhos ainda uma vez antes de morrer”. Jurou ao monstro tudo que ele queria e a fera lhe deu permissão para partir quando quisesse. “Não quero que chegue a sua casa de mãos vazias. Volte ao quarto onde dormiu e lá encontrará um grande cofre vazio. Encha-o com tudo que desejar, mandarei levá-lo à sua casa.”
A Fera retirou-se o deixando sozinho e o negociante pensou: “Já que vou morrer pelo menos levarei tudo que puder para ajudar meus filhos”.
Voltou a seu quarto e, encontrando ali grande quantidade de moedas de ouro e jóias valorosas, encheu até a borda o cofre que a Fera havia falado. Fechou-o, foi buscar seu cavalo no estábulo e partiu do palácio com uma tristeza tão grande que seu coração doía. Seu cavalo instintivamente escolheu o caminho certo no meio da floresta, e em poucas horas o negociante chegava enfim em sua casa.
Seus seis filhos vieram correndo ao seu encontro a abraçá-lo, mas, em vez de se alegrar com seus carinhos, pôs-se a chorar. Tinha nas mãos o ramo de rosas que trazia para Bela. Ao entregá-lo disse: “Bela, cuide bem dessas rosas. Elas custaram muito caro ao seu pobre pai.” E prontamente contou à família a extraordinária aventura por que passara. Ao ouvir seu relato as filhas mais velhas ficaram furiosas. Gritavam, esbravejavam e lançavam insultos contra Bela, que chorava sem parar. “Vejam o resultado da idiotice dessa criatura”, disseram, “Por que não pediu artigos de toalete como nós? Mas não, a senhorita queria ser diferente e por causa disse vai causar a morte do nosso pai.”
“Por que eu deveria chorar a morte do meu pai”, perguntou Bela, se refazendo do primeiro choque, “ele não vai morrer. Como o monstro está disposto a aceitar a filha que pediu a rosa em troca dele, vou me entregar a sua fúria. Estou muito feliz, porque morrendo, terei a alegria de salvar meu pai e lhe provar o meu amor.”
Prontamente respondiam seus três irmãos: “Não minha irmã. Você não vai morrer. Vamos encontrar esse monstro e matá-lo, ou morrer lutando!”.
“Não se enganem meus filhos”, disse-lhes o negociante. “A força da Fera é tal que não tenho a menor esperança que possamos matá-la. Fico comovido com o coração abnegado de Bela, mas não quero entregá-la a morte. Já estou velho e provavelmente não tenho mais muito tempo de vida. Só lamento porque não estarei mais com vocês, meus queridos filhos.”
“Não permitirei que vá sozinho a esse palácio”, disse Bela. Prefiro ser devorada por essa fera a ter de agüentar a dor que sentiria com a sua perda.”
Não adiantou argumentar, Bela estava irremovível na decisão de partir para o palácio. Suas irmãs, pelo contrário, ficaram encantadas por essa idéia, já que iriam se livrar da caçula por quem nutriam grande inveja. O negociante estava tão absorvido com a dor de perder a filha que não se lembrou do cofre repleto de ouro que trouxera. Porém, assim que se fechou em seu quarto para dormir, ficou muito espantado por encontrá-lo junto à sua cama. Decidiu esconder dos filhos que estavam ricos novamente, porque as moças iriam imediatamente querer voltar para a cidade e ele queria viver o tempo que lhe restara no campo. Mas, confiou o segredo a Bela, que por sua vez lhe contou que, durante o tempo em que estivera fora, foram visitados por fidalgos. Dois desses ricos homens eram apaixonados por suas irmãs, e ela pediu ao pai que as casasse. Era tão boa que apesar de tudo que elas lhe faziam, ainda gostava delas, e as perdoava de todo coração pelo mal que lhe haviam feito.
Quando na manhã seguinte Bela partiu como pai, as duas irmãs tão falsas esfregaram cebola nos olhos para parecer que choravam, mas os três irmãos choravam de verdade, desolados, assim como o negociante. Bela agüentava firme para não piorar ainda mais a situação que era tão dolorosa.
Os cavalos rumaram pelo caminho que levava ao palácio e, ao anoitecer, puderam vê-lo iluminado como da primeira vez. Deixaram os cavalos no estábulo e o negociante e a filha entraram no salão, onde encontraram uma mesa magnificamente servida, com pretos e talheres para dois. O negociante não conseguia comer nada diante desta situação, mas Bela, esforçando-se para parecer tranqüila, sentou-se à mesa e o serviu. Enquanto isso pensava: “A Fera que me engordar antes de me comer, por isso me serve essa farta refeição.” Assim que acabaram de comer ouviram um barulho estrondoso e o negociante, em lágrimas, despediu-se da filha, porque sabia que a Fera se aproximava. Bela não pode conter um arrepio ao ver aquela terrível figura. Após o susto do primeiro contato controlou-se o melhor que pôde, e quando o monstro lhe perguntou se viera espontaneamente, respondeu tremendo que sim.
“Você é muito bondosa”, disse a Fera, “e sou-lhe muito agradecido. Quanto ao senhor, meu bom homem, parta pela manhã, e nunca mais ouse voltar aqui. Até mais Bela.”
“Até mais Fera, Bela respondeu, e o ser fantástico retirou do aposento”.
“Ah, minha filha!” disse o negociante dando um abraço apertado em Bela, “Já estou arrependido de ter concordado com você, parta e deixe que eu fique aqui.”
“Não meu pai”, disse Bela com firmeza, “O senhor partirá amanhã assim que o dia clarear, e me entregará à misericórdia de Deus. Que Ele tenha piedade de mim!”
Os dois se recolherem muito atormentados achando que não conseguiriam pregar os olhos a noite inteira, porém, mal havia se deitado caíram no mais profundo dos sonos. Enquanto dormia Bela sonhou com uma dama que lhe dizia: “Estou contente com seu bom coração e com sua coragem Bela. Sua boa ação, oferecendo a sua própria vida para salvar a do seu pai não ficará sem recompensa.”
Logo que acordou Bela contou o sonho a seu pai, e mesmo com esse consolo não conseguiu conter um choro muito sofrido ao se separar de sua querida filha.
Depois da partida do pai Bela sentou-se no grande salão e começou a chorar também. Porém, como era muito corajosa entregou-se nas mãos de Deus e decidiu que não adiantava se atormentar mais com algo que já estava determinado, e resolveu esperar em paz a hora em que a Fera a devoraria.
Enquanto esperava, resolveu visitar o castelo, pois era muito bonito. Foi andando pelos corredores e teve a maior surpresa ao se deparar com uma porta onde estava escrito: “Aposentos de Bela”. Em um impulso abriu a porta e ficou com a magnificência que encontrou ali, onde não faltava um grande armário repleto de bons livros, um cravo e várias partituras de música.
“Alguém que me agradar”, murmurou. Em seguida pensou: “Se eu tivesse só um dia para passar aqui não estariam me cobrindo com tantos presentes.” Esse pensamento a alegrou. Abriu um armário e encontrou um livro onde estava escrito em letras douradas: “Vossos desejos são ordens. Aqui, sois a rainha e a senhora.
“Com um longo suspiro pensou: “Tudo que desejo é rever meu pai e saber o que está fazendo agora.” Foi só um pensamento, mas para sua surpresa, ao olhar para um grande espelho a sua frente, viu nele a sua casa e seu pai chegando com um semblante arrasado. As irmãs correram para abraçá-lo fazendo caretas para parecerem tristes, enquanto seus olhos transbordavam de felicidade por não precisarem mais rever a irmã da qual morriam de inveja. Essa cena durou apenas alguns instantes, desaparecendo logo em seguida, e Bela admitiu que a Fera era bem indulgente, e que ela não devia temê-la.
Ao meio-dia encontrou a mesa posta e almoçou ouvindo um concerto arrebatador, embora não visse ninguém a tocar nenhum instrumento. Na hora do jantar, assim que se sentou à mesa ouviu o barulho que antecedia a chegada da Fera e não pode conter um calafrio.
“Bela”, disse o monstro, “minha presença durante sua ceia lhe incomoda”?
“O senhor é que é o dono deste reino”, disse Bela, tremendo.
“Não”, respondeu a Fera, Não há aqui outra senhora além de Bela. Se a aborreço é só dizer uma só palavra e irei embora. Diga, a senhorita me acha muito feio?”
“Sim, eu acho”, disse Bela. “Não sei mentir. Mas acredito que é muito bom.”
“Tem razão”, disse o monstro, “sou feio e acho que não tenho inteligência, apesar não passo de um animal.”
“Não pode ser um animal se acha que não tem inteligência, respondeu Bela. “Um tolo nunca sabe que é tolo.”
“Então coma Bela”, disse a Fera, “tudo que está aqui é seu, não quero que tenha nenhum aborrecimento, pois eu ficaria desolado se você não estivesse contente.”
“O senhor é muito bondoso e atenciosos”, disse Bela. Confesso que seu coração me atinge profundamente. “Quando penso nele o senhor não me parece tão feio.”
“A senhorita está certa”, respondeu a Fera, “Tenho um bom coração, mas apesar disso sou um monstro.”
“Muitos homens são mais monstruosos”, disse Bela, “e gosto mais do senhor com essa aparência que daqueles que, atrás de uma boa aparência de homens, escondem um coração falso, corrompido, cruel.”
“Gostaria de lhe agradecer com um grande elogio”, respondeu a Fera, “mas como sou um estúpido tudo que posso dizer é que fico muito grato.”
Bela ceou com apetite a gostosa refeição que estava a sua frente. Quase não tinha mais medo da Fera, mas levou o maior susto quando esta lhe perguntou de repente: “ Bela, quer ser minha mulher?”
Bela ficou parada, sem resposta por algum tempo. Temia provocar a cólera da Fera recusando-o. Mesmo assim foi franca, respondendo: “Não, Fera.”.
Ouvindo isso o pobre monstro soltou um profundo suspiro, tão triste e tão alto que ressoou por todo castelo. Mas Bela logo se acalmou porque a Fera lhe disse tristemente: “Adeus, Bela”, e saiu da sala, virando-se de vez em quando para olhar para ela mais uma vez.
Novamente sozinha Bela sentiu grande compaixão por aquela pobre Fera: “Que pena que seja tão feio, é tão bom, tão querido.”
Três meses se passaram que Bela chegara àquele palácio, na mais completa tranqüilidade. Todas as noites a Fera a visitava durante a ceia, onde tinham conversas deliciosas. Aos poucos Bela se acostumara com sua feiúra e. longe de temer o momento de sua visita, esperava ansiosa às nove horas, a hora em que a Fera aparecia. Só uma coisa afligia Bela: é que o monstro diariamente, antes de se retirar sempre perguntava se ela queria se casar com ele e parecia profundamente ferido se a resposta era não.
Certo dia Bela falou: “ O senhor está me fazendo sofrer, Fera. Gostaria de poder aceitar seu pedido de casamento, mas sou muito sincera para iludi-lo, afirmando que um dia isso acontecerá. Por enquanto o que posso dizer é que sempre serei sua amiga.”
“Não me resta outra coisa”, respondeu o monstro, “não tenho ilusões a respeito da minha aparência, sei que sou horrível, mas a amo muito e, seja como for, fico muito feliz por permanecer aqui comigo. Prometa que não me deixará!”
Bela ficou perturbada com esse pedido. Soubera através do espelho que seu pai estava doente de tristeza por tê-la perdido e desejava revê-lo.
“Prometo que nunca vou abandoná-lo”, disse Bela, “mas tenho muita vontade de rever meu pai, mesmo que só por algum tempo, e sofreria muito se não me deixasse.”
“Prefiro morrer a fazê-la sofrer”, respondeu a Fera, “Vou enviá-la à casa de seu pai, mas se a senhorita não voltar, sua pobre Fera morrerá de dor.”
“Não”, disse Bela, chorando só em pensar nessa possibilidade, “Meu amor é muito grande para causar a sua morte. Prometo voltar em oito dias. Pelo senhor já estou sabendo que minhas irmãs estão casadas e que meus irmãos partiram para o exército. Meu pai está completamente só, permita que eu passe uma semana com ele.
“Estará em sua casa amanhã cedo”, disse a Fera, “Mas não esqueça da sua promessa. Quando quiser voltar só precisa pôr seu anel sobre uma mesa ao se deitar.”
Ao dizer essas palavras a Fera suspirou como era de seu costume e Bela foi se deitar triste por tê-lo feito sofrer.
Bela acordou na casa do pai, nesse momento entrou uma criada que se assustou ao vê-la e deu um grande grito. O negociante veio correndo ver o que estava acontecendo e quase morreu de alegria ao ver sua querida filha. Pulavam de alegria e se abraçaram por muito tempo. Após o alvoroço do reencontro, Bela percebeu que não trouxera suas roupas e que não tinha com o que se vestir, quando seus olhos se depararam com um grande baú ao lado de sua cama, repleto de lindos vestidos enfeitados com pedras preciosas. Imediatamente Bela mandou, em pensamento, agradecimentos à Fera por suas atenções. Pegou o vestido mais simples e ordenou à criada que guardasse os outros, pois tinha a intenção de dá-los de presente as suas irmãs. Foi só ela dizer isso e o baú desapareceu da sua frente. Seu pai, com sabedoria, alertou que a Fera deu aquele presente para Bela, e que não queria que ela os desse a ninguém e, prontamente o baú com os vestidos voltou para o mesmo lugar.
Enquanto Bela se aprontava para o café da manhã a criada foi avisar suas irmãs de sua chegada. Essas, apesar de casadas com ricos fidalgos estavam infelizes. A mais velha se casara com um belíssimo rapaz, e este amava muito a si mesmo, passava o dia cuidando de sua própria aparência e não tinha olhos para a esposa. A segunda se casara com um homem assaz inteligente, e este usava a inteligência apenas para, com uma língua muito ferina, espicaçar todos que passavam na sua frente, a começar pela própria esposa. As irmãs de Bela quase morreram de amargura ao vê-la mais bela ainda do que antes e vestida como uma princesa, nem conseguiam disfarçar. Bela tentou alegrá-las, mas nada adiantou, ao contrário, piorou, elas quase explodiram de inveja quando Bela lhes contou como era feliz. As duas invejosas assim que se viram a sós começaram a falar de Bela: “Como essa criatura se atreve a ser mais feliz do que nós? Somos mais belas e mais encantadoras!”.
“Irmã”, disse a mais velha, “ tive uma idéia para destruir com a alegria dela. Só temos que conseguir segurar Bela aqui por mais de oito dias. Aquela Fera idiota ficará furiosa por ela ter lhe faltado com a palavra e a devorará”.
“Ótima idéia”, respondeu a outra, “com jeito, lhe fazendo mil agrados vamos atingir o nosso intento!”. Felizes com sua idéia maligna foram ao encontro de Bela e foram tão afetuosas com ela, que esta comovida chorou de felicidade acreditando que as irmãs tinham mudado. Passado os oito dias as irmãs começaram a fazer um teatro, se mostrando profundamente consternadas com a partida de Bela, implorando-lhe que ficasse mais um pouco com elas, e choraram até que Bela prometesse permanecer por mais oito dias. Bela assim o fez para acalmar as irmãs, ao mesmo tempo em que se martirizava pensando na Fera, a quem amava de todo coração, e de quem sentia muita falta. Na décima noite em que passou na casa de seu pai, Bela sonhou que estava no jardim do palácio e deitado na grama, à morte estava a Fera, triste por sua ingratidão. Bela acordou sobressaltada e em prantos com a imagem do sofrimento de sua querida Fera.
“Estarei sendo perversa”, disse ela consigo mesma, “fazer sofrer a Fera que é tão bondosa comigo? Ele não tem culpa por ser tão feio, o mais importante é que tem um coração de ouro! Por que não quis me casar com ele? Seria mais feliz ao lado dele do que minhas irmãs com seus lindos maridos. Não é a inteligência ou beleza de um marido o que faz uma mulher feliz, mas sim seu caráter, sua bondade, sua cumplicidade, e a Fera tem de sobra todas essas boas qualidades. Não agüento fazê-lo infeliz, é ingratidão da minha parte. Eu me condenaria por isso para o resto da minha vida”.
Pensando assim Bela imediatamente se levantou, pôs seu anel sobre a mesa próxima e voltou para a cama. Adormeceu assim que se deitou e, ao acordar pela manhã, viu com grande alegria que estava no palácio da Fera. Vestiu-se rapidamente para reencontrar a Fera, colocando o vestido mais bonito que encontrou só para agradá-lo, e ficou ansiosamente aguardando as dar nove horas da noite. Enfim o relógio começou a dar as badaladas, mas quando acabou a Fera não apareceu.
Bela se assustou, temeu que com seu atraso em retornar tivesse causado a morte da Fera, e saiu em desabalada correria percorrendo todo palácio, procurando por toda parte, gritando pela Fera. Desesperada de repente lembrou-se do seu sonho e correu para o jardim na direção do canal, onde o tinha visto. Encontrou a pobre Fera caída no chão, já inconsciente, e pensou que ele estivesse morto.
Atirou-se em prantos sobre seu corpo, não sentindo mais a menor repulsa pela sua aparência, e abraçando-se nele percebeu que seu coração ainda batia fracamente. Com as mãos pegou água do canal e jogou sobre seu rosto. A Fera abriu os olhos e disse a Bela: “ Você esqueceu sua promessa. A dor de perdê-la deixou-me nesse estado, mas morrerei feliz porque tive o prazer de revê-la mais uma vez”.
“Não querido, você não vai morrer não”, respondeu Bela, Vai viver para se tornar meu esposo. Neste momento lhe concedo minha mão, e juro que pertencerei somente a você. Ai de mim, por muito tempo acreditei que o que sentia por você era só amizade, mas a dor que sinto ao vê-lo assim me faz ver que o amo e que não poderei viver sem a sua presença”.
Mal pronunciara essas palavras, diante dos olhos assustados de Bela, o castelo resplandeceu em luz, surgindo uma explosão de lindíssimos fogos de artifício, com uma música maravilhosa vinda não se sabe de onde. Apesar disso, Bela só conseguia olhar para a Fera, cujo estado a inquietava. Que surpresa ela teve! A Fera desaparecera e tudo que Bela viu foi um príncipe mais belo que o amor a seus pés, agradecendo-lhe por ter desfeito o encantamento. Bela olhou atônita para o príncipe e perguntou onde estava a Fera.
Bela deu a mão ao príncipe e foram juntos para o castelo, e para sua surpresa e alegria ela encontrou no salão o pai e sua família, que a linda dama de seu sonho tinha transportado pra lá.
“Bela”, disse-lhe essa dama, que era uma fada, está na hora de você colher a recompensa por sua boa escolha: você preferiu a virtude à beleza e à inteligência, portanto merece encontrar todas essas qualidades reunidas numa mesma pessoa. Vai se tornar uma grande rainha. Espero que o trono não destrua suas virtudes. “Quanto às senhoritas”, disse a fada para as irmãs de Bela, “serão transportadas cada uma para um castelo onde, convertidas em feras, passarão pela mesma experiência do príncipe até que seus corações perversos e invejosos se convertam em bondade, ou até que morram de velhice, ou até que alguém, horrorizado com a aparência de vocês, as mate”.E assim foi feito.
Depois a fada moveu sua varinha, transportando todos que ali estavam para o reino do príncipe, onde seus súditos o receberam com grande alegria. Ele se casou com Bela, que viveu com ele por muitos e muitos anos, numa felicidade tão perfeita quanto a que é possível aos mortais.
Soneto e Poema ao Dom Quixote de la Mancha
Dom Quixote de la Mancha
Rompi,cortei,almoguei,fiz e refiz
Mais que no nobre cavaleiro andante
Fui destro valente e arrogante
Mil agravos vinguei, cem mil desfiz
Façanha dei a fama que eternize
Cometido e regalado amante
Foi anão pra mim todo gigante
E ao duelo qualquer ponto satisfiz
Tive á meus pés prostada a fortuna
E trouxe do corpete minha dordura
À calva ocasião ao estricote
Mas ainda sobre os cornos na lua
Sempre se viu no cume minha aventura
Tuas proezas invejo, ó grão Quixote!
Dulcineia del Toboso
Oh quem tivera, formosa Dulcinéia
Por mais comodidade e mais repouso
A miraflores posto em el toboso
E trocara seus londres com tua aldeia
Oh quem de teus desejos e libré
Alma e corpo adornava e do famoso
Cavaleiro que fizeste aventuroso
mirara alguma desigual peleja
Oh quem tão castamente se escapara
do senhor amadis, como fizeste
Do comedido fidalgo Dom Quixote
Que assim invejada fora e não invejada
E fora alegre o tempo que foi triste
Gozara os prazeres sem limite
A Sancho Pança
Sou sancho pança escudeiro
do manchego Dom Quixote
Pus pés em polvorosas
para viver ao discreto
que o talcito vila diogo
toda sua razão de estado
cifrou numa retirada
segundo sente celestina
livro ao meu ver divino
se envolvisse mais o humano
A Rocinante:
Sou Rocinante, o famoso
Bisneto do grande babieca
Por pecados de fraquesa
fui a poder dum Dom Quixote
Parelhas corre ao frouxo
Mas por unha de cavalo
Não me escapou cevada
Que isto tirei a lazarilho
Quando para furtar o ninho
Ao cego lhe dei a palha.
Os Quatro Alunos
Os Quatro Alunos
Uma fábula sobre as diferentes maneiras de ser estudante, escrita por um aluno.
Esta é uma história que se passa em qualquer canto do brasil, em qualquer escola, com qualquer aluno, comigo.
Eram quatro rapazes que estudavam em uma mesma classe: Arrependido, Falso, Mínimo e Quero-tentar.
Arrependido era um rapaz desanimado com os estudos, não fazia nada na sala de aula e muito menos os deveres de casa. Não pensava no seu futuro e vivia achando que estava perdendo tempo naquela escola e por isso arrependia-se por não poder ficar pelas ruas com seus colegas. Por não gostar de estudar, tirava notas baixas.
Falso era um cara mentiroso e um pouco preguiçoso para com os estudos. Ou copiava de alguém ou falsificava o que fazia. Na realidade mesmo, nada fazia e era tão falso quanto sua própria nota. Apesar de ser razoável pois tudo que precisava era "colar" ou confiar no amigo na hora da avaliação, raramente isso falhava.
Mínimo era um rapaz que não pensava muito longe, para este o que importava era conseguir uma nota que o aprovasse, portanto, estudava pouco, mas não "colava" nas avaliaões e não passa disso, 60% era o bastante e contentava-se com este mínimo. Sempre tinha um pensamento: "Tenho boas notas porque nao perdi nenhuma".
Quero-tentar gostava do que fazia. Quando lhe apresentavam algo novo, um problema que ele não soubesse, ele dizia: "vou tentar resolve-lo" e quase sempre conseguia mesmo. Não era nem mais, nem menos inteligente do que os outros, mas tinha força de vontade. Suas notas eram boas, porém, não estudava para tirar notas e sim para ficar sabendo. Este era aluno todos os dias e sua persistência o ajudava vencer.
Assim Quero-tentar era o primeiro da classe. Em termos de aprendizagem, Mínimo era o penúltimo, Falso era o último, pois, só tinha nota e não sabia nada. Arrependido abandonou a escola.
Hoje, todos já são homens feitos e cada um teve seu destino:
Arrependido mora numa grande favela chamada TARDE DEMAIS
Falso queria ser político, mas foi infeliz porque descobriram sua falsidade; foi julgado e condenado por um juíz chamado VERDADE.
Minímo com seu conhecimento mínimo, é soldado mínimo das Forças Armadas, ganha um salário minimo e tem um comandante muito exigente chamado Máximo, que sempre lhe cobra 100%.
Quero-tentar se saiu melhor e hoje é presidente de um país chamado "Republica Democratica dos Sucessos".
A Bela Adormecida
Publicado em 1812 tradução de Karin Volobuef
Há muito tempo, viviam um rei e uma rainha que todos os dias diziam: "Ah, se nós tivéssemos uma criança!", e nunca conseguiam uma. Aí aconteceu que, uma vez em que a rainha estava se banhando, um sapo rastejou para fora da água e lhe disse "Seu desejo será realizado; antes que se passe um ano, você dará à luz uma menina". Aquilo que o sapo dissera aconteceu, e a rainha teve uma menina que era tão formosa que o rei mal se continha de felicidade, e preparou uma grande festa. Ele não apenas convidou seus parentes, amigos e conhecidos, como também as fadas, a fim de obter suas boas graças para a criança. Havia treze delas em seu reino, mas como ele só possuía doze pratos de ouro, nos quais elas poderiam comer, uma delas teria de ficar em casa. A festa foi celebrada com toda a pompa e, quando chegou ao fim, as fadas presentearam a criança com dotes mágicos: uma com a virtude, outra com a formosura, a terceira com riqueza, e assim com tudo o que há de desejável no mundo. Quando onze já tinham falado, entrou de repente a décima terceira. Ela queria se vingar por não ter sido convidada e, sem cumprimentar ou mesmo olhar para quem quer que seja, exclamou aos brados: "A princesa deverá espetar-se em um fuso quando tiver quinze anos, e cair morta." E sem dizer mais nada, virou as costas e deixou o salão. Todos estavam assustados, e então adiantou-se a décima segunda, que ainda não tinha feito seu desejo, e como não podia anular a maldição, mas apenas abrandá-la, ela disse: "A princesa não morrerá, apenas cairá em um sono profundo que durará cem anos."
O rei, que queria salvar sua querida criança do infortúnio, ordenou que todos os fusos do reino inteiro fossem queimados. Na menina, entretanto, realizaram-se plenamente todos os dons das fadas, pois ela era tão bela, educada, gentil e sensata que todos que a viam não podiam deixar de gostar dela. Sucedeu que, justamente no dia em que ela completava quinze anos, o rei e a rainha não estavam em casa, e a menina estava sozinha no castelo. Ela andou então por todos os cantos, examinou à vontade aposentos e câmaras, e finalmente chegou até uma velha torre. Subiu a estreita escada em espiral e deparou-se com uma pequena porta. Na fechadura havia uma chave enferrujada e, quando ela a girou, a porta se abriu de um só golpe e lá, em um quartinho, estava sentada uma velha com um fuso, fiando diligentemente seu linho. "Bom dia, velha mãezinha", disse a princesa, "o que você está fazendo aí?" "Eu estou fiando," disse a velha, e balançou a cabeça. "O que é isto, que pula tão alegremente?" perguntou a menina, e pegou o fuso querendo também fiar. Mal ela tinha tocado o fuso, a maldição se realizou, e ela espetou-se no dedo.
Mas, no mesmo instante em que foi picada, ela caiu na cama que ali estava, e foi tomada de um profundo sono. E este sono estendeu-se por todo o castelo: o rei e a rainha, que tinham acabado de chegar e entrado no salão, começaram a dormir, e com eles toda a Corte. Dormiram então também os cavalos no estábulo, os cachorros no pátio, as pombas no telhado, as moscas na parede, e até o fogo, que chamejava no fogão, ficou imóvel e adormeceu, e o assado parou de crepitar, e o cozinheiro, que queria puxar seu ajudante pelos cabelos porque ele havia feito uma coisa errada, soltou o menino e dormiu. E o vento assentou-se, e nas árvores defronte ao castelo nem uma folhinha se movia.
ao redor do castelo começou porém a crescer uma cerca de espinhos, que a cada ano ficava mais alta e que, por fim, estendeu-se em volta de todo o castelo e cobriu-o de tal forma que nada mais se podia ver dele, nem mesmo a bandeira sobre o telhado. Começou então a correr no país a lenda da bela adormecida, pois assim era chamada a princesa, de modo que de tempos em tempos chegavam príncipes que tentavam penetrar no castelo através da cerca viva. Mas nenhum deles conseguiu, pois os espinhos estavam tão entrelaçados como se tivessem mãos, e os jovens ficavam presos neles e não conseguiam se soltar, sofrendo uma morte lastimável. Depois de muitos anos, chegou mais uma vez um príncipe ao reino e ouviu quando um velho contava da cerca de espinhos, e que havia um castelo atrás dela, no qual uma linda princesa, chamada Bela Adormecida, já dormia há cem anos, e com ela dormia o rei e a rainha e toda a corte. Ele também sabia pelo seu avô que muitos príncipes já haviam vindo e tentado penetrar pela cerca viva de espinhos, mas haviam ficado presos nela e morrido tristemente. O jovem então disse: "Eu não tenho medo, eu quero ir lá e ver a Bela Adormecida." O bom velho tentou dissuadi-lo de todos os modos, mas ele não deu ouvidos às suas palavras.
Mas agora os cem anos tinham justamente acabado de transcorrer, e havia chegado o dia em que Bela Adormecida deveria acordar. Quando o príncipe se aproximou da cerca de espinhos, estes não eram agora mais do que flores grandes e bonitas que por si sós se abriram e o deixaram passar ileso, e se fecharam atrás dele, formando novamente uma cerca. No pátio do castelo ele viu os cavalos e os cães de caça malhados deitados e dormindo, no telhado estavam pousadas as pombas, e tinham a cabecinha metida debaixo da asa. E quando ele entrou na casa, as moscas dormiam na parede, o cozinheiro na cozinha ainda levantava a mão como se quisesse agarrar o menino, e a criada estava sentada diante da galinha preta que deveria ser depenada. Ele então continuou andando, e avistou no salão toda a corte deitada e dormindo, e lá em cima, perto do trono, estavam deitados o rei e a rainha. Aí ele continuou andando ainda mais, e tudo estava tão quieto que se podia ouvir sua respiração, e chegou finalmente à torre e abriu a porta do quartinho, no qual Bela Adormecida dormia. Lá estava ela deitada, e era tão bela que ele não conseguia desviar os olhos, e ele se inclinou e beijou-a. Quando ele a tinha tocado com os lábios, Bela Adormecida abriu os olhos, acordou e olhou para ele amavelmente. Então os dois desceram, e o rei acordou, e a rainha e toda a corte, e se olharam espantados. E os cavalos no pátio se levantaram e se sacudiram; os cães de caça pularam e abanaram suas caudas; as pombas no telhado tiraram a cabecinha de sob a asa, olharam ao redor e voaram para o campo; as moscas nas paredes recomeçaram a rastejar; o fogo na cozinha levantou-se, chamejou e cozinhou a comida; o assado voltou a crepitar; e o cozinheiro deu um tamanho tabefe no menino que este gritou; e a criada terminou de depenar a galinha. E aí foram festejadas com todas as pompas as bodas do príncipe com a Bela Adormecida, e eles viveram felizes até o fim.
Continue lendo essa postagem. >>Jacinto e Rosinha
Conto de 1807 dos Irmãos Grimm Tradução de Karin Volobuef
Em épocas remotas vivia bem longe próximo ao oriente um rapaz na flor da juventude. Ele era muito correto, mas também sobremaneira estranho. Mortificava-se sem parar por coisas absolutamente insignificantes, andava sempre ensimesmado, ficava sentado à parte enquanto os demais se entretinham com folguedos e se divertiam, e entregava-se a pensamentos bizarros. Grutas e florestas eram os seus lugares prediletos, e lá ficava falando com animais e pássaros, com árvores e rochedos, naturalmente nenhuma palavra ajuizada, apenas um monte de tolices de morrer de rir. Ele continuava sempre circunspeto e rabugento embora o esquilo, o macaco, o papagaio e o pisco (2) se esforçassem ao máximo para distraí-lo e pô-lo no bom caminho . O ganso narrava contos de fadas, o regato enquanto isso tamborilava uma balada, uma pedra grande e compacta dava cambalhotas ridículas, a rosa vinha de mansinho por trás dele e carinhosamente enrodilhava-se em seus cachos, e a hera acariciava-lhe a testa carregada de preocupações. Contudo , a melancolia e a sisudez eram teimosas. Os pais dele estavam bastante aflitos e não sabiam o que fazer. Ele era saudável e se alimentava, eles nunca o tinham ofendido e, além disso, até há poucos anos, ele fora o menino mais alegre e feliz, à dianteira em todos os folguedos e benquisto de todas as meninas. Era realmente muito belo, parecia obra de um artista, dançava com elegância. Dentre as moças, havia uma donzela delicada e muito formosa, parecia feita de cera, tinha cabelos como seda dourada, lábios rubros como cerejas, corpo de boneca, olhos negros como corvos. Quem a via ficava a ponto de desfalecer, tão encantadora era a menina. Naquela época, Rosa - esse era o nome dela - queria bem de todo o coração ao belo Jacinto - esse era o nome dele - e ele morria de amor por ela. As outras crianças não sabiam disso. Uma violeta foi a primeira a dar-lhes a notícia, depois de os gatinhos de estimação terem percebido tudo, já que as casas dos pais de ambos ficavam perto uma da outra. Quando Jacinto ficava à noite em frente de sua janela e Rosa em frente da dela, os bichanos que por lá passavam à caça de camundongos avistavam os dois, riam e por vezes davam gargalhadas tão altas que eles ouviam e ficavam zangados. A violeta tinha confidenciado tudo ao morango, este contou à sua amiga, a groselha espinhosa, esta não pôde conter seus remoques quando Jacinto veio caminhando por ali. E assim a notícia logo correu por todo jardim e por toda floresta, e quando Jacinto saía a passeio ouvia de todos os lados: Rosinha é meu amorzinho! Jacinto então se zangava, embora por outro lado não pudesse deixar de rir prazerosamente quando a lagartixinha se esgueirava para perto, tomava assento numa pedra cálida, abanava o rabinho e entoava:
A boa menina, Rosinha,
de repente ficou ceguinha;
pensando ser sua mãe a chegar
corre para Jacinto abraçar;
quando ela o rosto percebe
vejam só, ela não estremece,
e, fazendo-se de desentendida,
a beijar o rapaz continua entretida.
Ah, quão pouco ainda haveria de durar toda essa ventura. Chegou de terras desconhecidas um homem que era muitíssimo viajado, tinha uma longa barba, olhos encovados, sobrancelhas imensas, vestes extravagantes com muitas pregas e desenhos de figuras estranhas. Ele sentou-se diante da casa que pertencia aos pais de Jacinto. Como Jacinto era muito curioso, tomou lugar ao lado dele trazendo-lhe pão e vinho. Aí sua alva barba se entreabriu e ele ficou falando até tarde da noite, e Jacinto não saiu de perto dele um instante sequer, nem se cansou de ouvi-lo. Tanto quanto se soube mais tarde, ele teria falado muito de países estrangeiros, regiões desconhecidas, de coisas prodigiosas e surpreendentes, e durante sua estadia de três dias ele arrastou-se com Jacinto até o interior de profundas furnas. Rosinha teve motivos de sobra para amaldiçoar o velho bruxo, pois Jacinto ficou fascinado por sua conversa e não pensou em mais nada, e mal provava um pouco de alimento. Finalmente o outro partiu, mas deixou para Jacinto um livrinho que pessoa alguma conseguia ler. O rapaz ainda lhe entregou frutas, pão e vinho para a viagem, e acompanhou-o por um longo trecho. Retornou, então, pensativo, e seu modo de ser passou por uma total transformação . Era de dar pena o quanto Rosinha sofreu por ele, pois desde então ele pouco se importou com ela e ficava quase sempre sozinho. Mas eis que certo dia ele voltou para casa parecendo renascido. Abraçou efusivamente seus pais e chorou. Preciso partir para terras distantes, disse ele, a estranha anciã da floresta revelou-me um meio que deverá curar-me, ela jogou o livro na fogueira e instou-me a que os procurasse e lhes pedisse sua benção. Talvez eu retorne em breve, talvez nunca mais. Dêem minhas lembranças a Rosinha. Eu teria gostado de falar com ela, mas não sei o que acontece comigo, sinto-me impelido a partir; quando tento rememorar os velhos tempos, de pronto idéias mais possantes se metem de permeio, minha paz se foi, junto com ela meu coração e o amor, preciso partir para procurá-los. Gostaria de dizer-lhes para onde vou, mas nem eu mesmo o sei, irei para onde mora a mãe de todas as coisas, a virgem coberta de véus: por ela é que o meu espírito anseia. Adeus. Ele arrancou-se de seus braços e partiu. Os pais lastimaram-se e verteram lágrimas, Rosinha permaneceu em seu aposento e chorou amargamente. Jacinto andou então o mais ligeiro que pôde, atravessando vales e descampados, transpondo rios e montanhas rumo ao misterioso país. Em todos os lugares perguntava pela deusa sagrada (Ísis) interpelando homens e animais, rochedos e árvores. Uns riam, outros silenciavam, em parte alguma recebia qualquer indicação. No princípio, passou por terras incultas e bravias; nuvens e brumas lançavam-se em seu caminho; a ventania soprava incessantemente. Mais tarde encontrou imensos desertos de areias incandescentes, e, enquanto assim prosseguia, também seu espírito foi-se alterando: o tempo lhe parecia mais lento e a agitação em seu íntimo foi-se acalmando; ele tornou-se mais brando e a sua violenta comoção pouco a pouco deu lugar a um impulso suave mas marcante, no qual toda sua alma se dissolvia. Era como se muitos anos se tivessem passado. A paisagem tornou-se então novamente mais opulenta e variada, o ar tépido e azul, o caminho mais plano; verdes arbustos atraíam-no com sombras deleitosas, mas ele não entendia sua linguagem, aliás eles não pareciam estar falando, apesar disso enchiam seu coração de cores verdes e de uma disposição reservada e serena. Mais e mais crescia dentro dele aquela doce nostalgia, e mais e mais largas e suculentas foram tornando-se as folhas, mais e mais sonoros e festivos os animais e passarinhos, mais aromáticos os frutos, mais escuro o céu, mais quente o ar, e mais ardente seu amor; o tempo ia passando mais e mais célere como se soubesse estar perto do local de chegada. E um dia ele cruzou com uma fonte cristalina e uma multidão de flores que vinham descendo para um vale por entre colunas negras e altas como o céu. Elas gentilmente o saudaram com palavras familiares. Prezados compatriotas, disse ele, onde poderia eu encontrar a sagrada morada da deusa Ísis? Deve achar-se aqui por perto, e talvez vocês conheçam o lugar melhor que eu. Também estamos aqui apenas de passagem, responderam as flores; uma família de espíritos encontra-se em viagem e estamos preparando-lhes o caminho e a pousada, contudo há pouco atravessamos uma região onde ouvimos mencionarem o nome dela. Siga na direção de onde viemos e decerto obterá mais informações. As flores e a fonte disseram-lhe isso com um sorriso, ofereceram-lhe um gole refrescante e prosseguiram em sua jornada. Jacinto seguiu seu conselho, indagou e indagou e finalmente chegou àquela morada que há tanto procurava e que ficava oculta sob palmeiras e outras vegetações magníficas. Seu coração batia com uma nostalgia infinita, e a mais doce ansiedade traspassou-o nesta habitação, que aloja as estações eternas. Imerso em deliciosos aromas celestiais ele adormeceu, pois somente lhe seria permitido adentrar o recinto mais sagrado se fosse guiado pelo sonho. Apoiado apenas em sons e acordes cambiantes, ele foi misteriosamente conduzido pelo sonho através de aposentos infinitos, cheios de coisas estranhas. Tudo lhe parecia tão conhecido e, no entanto, de uma exuberância nunca antes vista; logo a última reminiscência terrena desapareceu, como se tivesse se dissipado no ar, e lá estava ele diante da virgem celestial, ele levantou então o véu leve e resplandecente e Rosinha caiu em seus braços. Uma música longínqua cingiu em mistério o reencontro apaixonado, o transbordar da saudade, e afastou deste lugar encantador tudo o que não era familiar. Jacinto depois disso ainda viveu muito tempo com Rosinha junto de seus venturosos pais e companheiros, e incontáveis netos agradeceram à estranha anciã da floresta pelo seu conselho e sua fogueira, pois naquela época as pessoas tinham tantos filhos quanto queriam. Continue lendo essa postagem. >>
Os Três Porquinhos
Era uma vez, na época em que os animais falavam, três porquinhos que viviam felizes e despreocupados na casa da mãe.
A mãe era ótima, cozinhava, passava e fazia tudo pelos filhos. Porém, dois dos filhos não a ajudavam em nada e o terceiro sofria em ver sua mãe trabalhando sem parar.
Certo dia, a mãe chamou os porquinhos e disse:
__Queridos filhos, vocês já estão bem crescidos. Já é hora de terem mais responsabilidades para isso, é bom morarem sozinhos.
A mãe então preparou um lanche reforçado para seus filhos e dividiu entre os três suas economias para que pudessem comprar material e construírem uma casa.
Estava um bonito dia, ensolarado e brilhante. A mãe porca despediu-se dos seus filhos:
__Cuidem-se! Sejam sempre unidos! - desejou a mãe.
Os três porquinhos, então, partiram pela floresta em busca de um bom lugar para construírem a casa. Porém, no caminho começaram a discordar com relação ao material que usariam para construir o novo lar.
Cada porquinho queria usar um material diferente.
O primeiro porquinho, um dos preguiçosos foi logo dizendo:
__ Não quero ter muito trabalho! Dá para construir uma boa casa com um monte de palha e ainda sobra dinheiro para comprar outras coisas.
O porquinho mais sábio advertiu:
__ Uma casa de palha não é nada segura.
O outro porquinho preguiçoso, o irmão do meio, também deu seu palpite:
__ Prefiro uma casa de madeira, é mais resistente e muito prática. Quero ter muito tempo para descansar e brincar.
__ Uma casa toda de madeira também não é segura - comentou o mais velho- Como você vai se proteger do frio? E se um lobo aparecer, como vai se proteger?
__ Eu nunca vi um lobo por essas bandas e, se fizer frio, acendo uma fogueira para me aquecer! - respondeu o irmão do meio- E você, o que pretende fazer, vai brincar conosco depois da construção da casa?
__Já que cada um vai fazer uma casa, eu farei uma casa de tijolos, que é resistente. Só quando acabar é que poderei brincar. – Respondeu o mais velho.
O porquinho mais velho, o trabalhador, pensava na segurança e no conforto do novo lar.
Os irmãos mais novos preocupavam-se em não gastar tempo trabalhando.
__Não vamos enfrentar nenhum perigo para ter a necessidade de construir uma casa resistente. - Disse um dos preguiçosos.
Cada porquinho escolheu um canto da floresta para construir as respectivas casas. Contudo, as casas seriam próximas.
O Porquinho da casa de palha, comprou a palha e em poucos minutos construiu sua morada. Já estava descansando quando o irmão do meio, que havia construído a casa de madeira chegou chamando-o para ir ver a sua casa.
Ainda era manhã quando os dois porquinhos se dirigiram para a casa do porquinho mais velho, que construía com tijolos sua morada.
__Nossa! Você ainda não acabou! Não está nem na metade! Nós agora vamos almoçar e depois brincar. – disse irônico, o porquinho do meio.
O porquinho mais velho porém não ligou para os comentários, nem par a as risadinhas, continuou a trabalhar, preparava o cimento e montava as paredes de tijolos. Após três dias de trabalho intenso, a casa de tijolos estava pronta, e era linda!
Os dias foram passando, até que um lobo percebeu que havia porquinhos morando naquela parte da floresta. O Lobo sentiu sua barriga roncar de fome, só pensava em comer os porquinhos.
Foi então bater na porta do porquinho mais novo, o da casa de palha. O porquinho antes de abrir a porta olhou pela janela e avistando o lobo começou a tremer de medo.
O Lobo bateu mais uma vez, o porquinho então, resolveu tentar intimidar o lobo:
__ Vá embora! Só abrirei a porta para o meu pai, o grande leão!- mentiu o porquinho cheio de medo.
__ Leão é? Não sabia que leão era pai de porquinho. Abra já essa porta. – Disse o lobo com um grito assustador.
O porquinho continuou quieto, tremendo de medo.
__Se você não abrir por bem, abrirei à força. Eu ou soprar, vou soprar muito forte e sua casa irá voar.
O porquinho ficou desesperado, mas continuou resistindo. Até que o lobo soprou um a vez e nada aconteceu, soprou novamente e da palha da casinha nada restou, a casa voou pelos ares. O porquinho desesperado correu em direção à casinha de madeira do seu irmão.
O lobo correu atrás.
Chagando lá, o irmão do meio estava sentado na varanda da casinha.
__Corre, corre entra dentro da casa! O lobo vem vindo! – gritou desesperado, correndo o porquinho mais novo.
Os dois porquinhos entraram bem a tempo na casa, o lobo chegou logo atrás batendo com força na porta.
Os porquinhos tremiam de medo. O lobo então bateu na porta dizendo:
__Porquinhos, deixem eu entrar só um pouquinho! __ De forma alguma Seu Lobo, vá embora e nos deixe em paz.- disseram os porquinhos.
__ Então eu vou soprar e soprar e farei a casinha voar. O lobo então furioso e esfomeado, encheu o peito de ar e soprou forte a casinha de madeira que não agüentou e caiu.
Os porquinhos aproveitaram a falta de fôlego do lobo e correram para a casinha do irmão mais velho.
Chegando lá pediram ajuda ao mesmo.
__Entrem, deixem esse lobo comigo!- disse confiante o porquinho mais velho.
Logo o lobo chegou e tornou a atormentá-los:
__ Porquinhos, porquinhos, deixem-me entrar, é só um pouquinho!
__Pode esperar sentado seu lobo mentiroso.- respondeu o porquinho mais velho.
__ Já que é assim, preparem-se para correr. Essa casa em poucos minutos irá voar! O lobo encheu seus pulmões de ar e soprou a casinha de tijolos que nada sofreu.
Soprou novamente mais forte e nada.
Resolveu então se jogar contra a casa na tentativa de derrubá-la. Mas nada abalava a sólida casa.
O lobo resolveu então voltar para a sua toca e descansar até o dia seguinte.
Os porquinhos assistiram a tudo pela janela do andar superior da casa. Os dois mais novos comemoraram quando perceberam que o lobo foi embora.
__ Calma , não comemorem ainda! Esse lobo é muito esperto, ele não desistirá antes de aprende ruma lição.- Advertiu o porquinho mais velho.
No dia seguinte bem cedo o lobo estava de volta à casa de tijolos. Disfarçado de vendedor de frutas.
__ Quem quer comprar frutas fresquinhas?- gritava o lobo se aproximando da casa de tijolos.
Os dois porquinhos mais novos ficaram com muita vontade de comer maçãs e iam abrir a porta quando o irmão mais velho entrou na frente deles e disse: -__ Nunca passou ninguém vendendo nada por aqui antes, não é suspeito que na manhã seguinte do aparecimento do lobo, surja um vendedor?
Os irmãos acreditaram que era realmente um vendedor, mas resolveram esperar mais um pouco.
O lobo disfarçado bateu novamente na porta e perguntou:
__ Frutas fresquinhas, quem vai querer?
Os porquinhos responderam:
__ Não, obrigado.
O lobo insistiu:
Tome peguem três sem pagar nada, é um presente.
__ Muito obrigado, mas não queremos, temos muitas frutas aqui.
O lobo furioso se revelou:
__ Abram logo, poupo um de vocês!
Os porquinhos nada responderam e ficaram aliviados por não terem caído na mentira do falso vendedor.
De repente ouviram um barulho no teto. O lobo havia encostado uma escada e estava subindo no telhado.
Imediatamente o porquinho mais velho aumentou o fogo da lareira, na qual cozinhavam uma sopa de legumes.
O lobo se jogou dentro da chaminé, na intenção de surpreender os porquinho entrando pela lareira. Foi quando ele caiu bem dentro do caldeirão de sopa fervendo.
___AUUUUUUU!- Uivou o lobo de dor, saiu correndo em disparada em direção à porta e nunca mais foi visto por aquelas terras.
Os três porquinhos, pois, decidiram morar juntos daquele dia em diante. Os mais novos concordaram que precisavam trabalhar além de descansar e brincar.
Pouco tempo depois, a mãe dos porquinhos não agüentando as saudades, foi morar com os filhos.
Todos viveram felizes e em harmonia na linda casinha de tijolos.
Vamos Cantar:
Quem tem medo do Lobo Mau
(Desenho do Walt Disney)
Com palha eu faço a casa
Pra não me esforçar
Na minha casinha
Eu toca a flautinha
Eu gosto é de brincar!
De vara é minha casa
É onde eu vou morar
Mas eu não me amofino
Vou tocando violino
O que eu gosto é de dançar!
Eu faço a minha casa
Com pedra e com tijolo
Pra trabalhar não sei dançar
Pois não sou nenhum tolo
Ele não sabe brincar, nem cantar, nem dançar
Só o que sabe é trabalhar
Podem rir, dançar e brincar
Que não vou me aborrecer
Mas não vai ser brincadeira
Quando o lobo aparecer
Quem tem medo do Lobo mau, Lobo mau, Lobo mau------------ Bis
Dou um soco no nariz
Eu dou-lhe um bofetão
Eu dou-lhe um pontapé
Derrubo ele no chão
Quem tem medo do Lobo mau, Lobo mau, Lobo mau------------ Bis
Patinho Feio
A mamãe pata tinha escolhido um lugar ideal para fazer seu ninho: um cantinho bem protegido, no meio da folhagem, perto do rio que contornava o velho castelo.
Mais adiante estendiam-se o bosque e um lindo jardim florido.
Naquele lugar sossegado, a pata agora aquecia pacientemente seus ovos. Por fim, após a longa espera, os ovos se abriram um após o outro, e das cascas rompidas surgiram, engraçadinhos e miúdos, os patinhas amarelos que, imediatamente, saltaram do ninho.
Porém um dos ovos ainda não se abrira; era um ovo grande, e a pata pensou que não o chocara o suficiente.
Impaciente, deu umas bicadas no ovão e ele começou a se romper.
No entanto, em vez de um patinho amarelinho saiu uma ave cinzenta e desajeitada. Nem parecia um patinho.
Para ter certeza de que o recém-nascido era um patinho, e não outra ave, a mãe-pata foi com ele até o rio e o obrigou a mergulhar junto com os outros.
Quando viu que ele nadava com naturalidade e satisfação, suspirou aliviada. Era só um patinho muito, muito feio.
Tranqüilizada, levou sua numerosa família para conhecer os outros animais que viviam nos jardins do castelo.
Todos parabenizaram a pata: a sua ninhada era realmente bonita. Exceto um. O horroroso e desajeitado das penas cinzentas!
— É grande e sem graça! — falou o peru.
— Tem um ar abobalhado — comentaram as galinhas.
O porquinho nada disse, mas grunhiu com ar de desaprovação.
Nos dias que se seguiram, as coisas pioraram. Todos os bichos, inclusive os patinhos, perseguiam a criaturinha feia.
A pata, que no princípio defendia aquela sua estranha cria, agora também sentia vergonha e não queria tê-lo em sua companhia.
O pobre patinho crescia só, malcuidado e desprezado. Sofria. As galinhas o bicavam a todo instante, os perus o perseguiam com ar ameaçador e até a empregada, que diariamente levava comida aos bichos, só pensava em enxotá-lo.
Um dia, desesperado, o patinho feio fugiu. Queria ficar longe de todos que o perseguiam.
Caminhou, caminhou e chegou perto de um grande brejo, onde viviam alguns marrecos. Foi recebido com indiferença: ninguém ligou para ele. Mas não foi maltratado nem ridicularizado; para ele, que até agora só sofrera, isso já era o suficiente.
Infelizmente, a fase tranqüila não durou muito. Numa certa madrugada, a quietude do brejo foi interrompida por um tumulto e vários disparos: tinham chegado os caçadores!
Muitos marrequinhos perderam a vida. Por um milagre, o patinho feio conseguiu se salvar, escondendo-se no meio da mata.
Depois disso, o brejo já não oferecia segurança; por isso, assim que cessaram os disparos, o patinho fugiu de lá.
Novamente caminhou, caminhou, procurando um lugar onde não sofresse.
Ao entardecer chegou a uma cabana. A porta estava entreaberta, e ele conseguiu entrar sem ser notado. Lá dentro, cansado e tremendo de frio, se encolheu num cantinho e logo dormiu.
Na cabana morava uma velha, em companhia de um gato, especialista em caçar ratos, e de uma galinha, que todos os dias botava o seu ovinho.
Na manhã seguinte, quando a dona da cabana viu o patinho dormindo no canto, ficou toda contente.
— Talvez seja uma patinha. Se for, cedo ou tarde botará ovos, e eu poderei preparar cremes, pudins e tortas, pois terei mais ovos. Estou com muita sorte!
Mas o tempo passava, e nenhum ovo aparecia. A velha começou a perder a paciência. A galinha e o gato, que desde o começo não viam com bons olhos recém-chegado, foram ficando agressivos e briguentos.
Mais uma vez, o coitadinho preferiu deixar a segurança da cabana e se aventurar pelo mundo.
Caminhou, caminhou e achou um lugar tranqüilo perto de uma lagoa, onde parou.
Enquanto durou a boa estação, o verão, as coisas não foram muito mal. O patinho passava boa parte do tempo dentro da água e lá mesmo encontrava alimento suficiente.
Mas chegou o outono. As folhas começaram a cair, bailando no ar e pousando no chão, formando um grande tapete amarelo. O céu se cobriu de nuvens ameaçadoras e o vento esfriava cada vez mais.
Sozinho, triste e esfomeado, o patinho pensava, preocupado, no inverno que se aproximava.
Num final de tarde, viu surgir entre os arbustos um bando de grandes e lindíssimas aves. Tinham as plumas alvas, as asas grandes e um longo pescoço, delicado e sinuoso: eram cisnes, emigrando na direção de regiões quentes. Lançando estranhos sons, bateram as asas e levantaram vôo, bem alto.
O patinho ficou encantado, olhando a revoada, até que ela desaparecesse no horizonte. Sentiu uma grande tristeza, como se tivesse perdido amigos muito queridos.
Com o coração apertado, lançou-se na lagoa e nadou durante longo tempo. Não conseguia tirar o pensamento daquelas maravilhosas criaturas, graciosas e elegantes.
Foi se sentindo mais feio, mais sozinho e mais infeliz do que nunca.
Naquele ano, o inverno chegou cedo e foi muito rigoroso.
O patinho feio precisava nadar ininterruptamente, para que a água não congelasse em volta de seu corpo, criando uma armadilha mortal. Mas era uma luta contínua e sem esperança.
Um dia, exausto, permaneceu imóvel por tempo suficiente para ficar com as patas presas no gelo.
— Agora morrerei — pensou. — Assim, terá fim todo meu sofrimento.
Fechou os olhos, e o último pensamento que teve antes de cair num sono parecido com a morte foi para as grandes aves brancas.
Na manhã seguinte, bem cedo, um camponês que passava por aqueles lados viu o pobre patinho, já meio morto de frio.
Quebrou o gelo com um pedaço de pau, libertou o pobrezinho e levou-o para sua casa.
Lá o patinho foi alimentado e aquecido, recuperando um pouco de suas forças. Logo que deu sinais de vida, os filhos do camponês se animaram:
— Vamos fazê-lo voar!
— Vamos escondê-lo em algum lugar!
E seguravam o patinho, apertavam-no, esfregavam-no. Os meninos não tinham más intenções; mas o patinho, acostumado a ser maltratado, atormentado e ofendido, se assustou e tentou fugir. Fuga atrapalhada!
Caiu de cabeça num balde cheio de leite e, esperneando para sair, derrubou tudo. A mulher do camponês começou a gritar, e o pobre patinho se assustou ainda mais.
Acabou se enfiando no balde da manteiga, engordurando-se até os olhos e, finalmente se enfiou num saco de farinha, levantando uma poeira sem fim. br> A cozinha parecia um campo de batalha. Fora de si, a mulher do camponês pegara a vassoura e procurava golpear o patinho. As crianças corriam atrás do coitadinho, divertindo-se muito.
Meio cego pela farinha, molhado de leite e engordurado de manteiga, esbarrando aqui e ali, o pobrezinho por sorte conseguiu afinal encontrar a porta e fugir, escapando da curiosidade das crianças e da fúria da mulher.
Ora esvoaçando, ora se arrastando na neve, ele se afastou da casa do camponês e somente parou quando lhe faltaram as forças.
Nos meses seguintes, o patinho viveu num lago, se abrigando do gelo onde encontrava relva seca.
Finalmente, a primavera derrotou o inverno. Lá no alto, voavam muitas aves. Um dia, observando-as, o patinho sentiu um inexplicável e incontrolável desejo de voar.
Abriu as asas, que tinham ficado grandes e robustas, e pairou no ar. Voou. Voou. Voou longamente, até que avistou um imenso jardim repleto de flores e de árvores; do meio das árvores saíram três aves brancas.
O patinho reconheceu as lindas aves que já vira antes, e se sentiu invadir por uma emoção estranha, como se fosse um grande amor por elas.
— Quero me aproximar dessas esplêndidas criaturas — murmurou. — Talvez me humilhem e me matem a bicadas, mas não importa. É melhor morrer perto delas do que continuar vivendo atormentado por todos.
Com um leve toque das asas, abaixou-se até o pequeno lago e pousou tranqüilamente na água.
— Podem matar-me, se quiserem — disse, resignado, o infeliz.
E abaixou a cabeça, aguardando a morte. Ao fazer isso, viu a própria imagem refletida na água, e seu coração entristecido deu um pulo. O que via não era a criatura desengonçada, cinzenta e sem graça de outrora. Enxergava as penas brancas, as grandes asas e um pescoço longo e sinuoso.
Ele era um cisne! Um cisne, como as aves que tanto admirava.
— Bem-vindo entre nós! — disseram-lhe os três cisnes, curvando os pescoços, em sinal de saudação.
Aquele que num tempo distante tinha sido um patinho feio, humilhado, desprezado e atormentado se sentia agora tão feliz que se perguntava se não era um sonho!
Mas, não! Não estava sonhando. Nadava em companhia de outros, com o coração cheio de felicidade.
Mais tarde, chegaram ao jardim três meninos, para dar comida aos cisnes.
O menorzinho disse, surpreso:
— Tem um cisne novo! E é o mais belo de todos! E correu para chamar os pais.
— É mesmo uma esplêndida criatura! — disseram os pais.
E jogaram pedacinhos de biscoito e de bolo. Tímido diante de tantos elogios, o cisne escondeu a cabeça embaixo da asa.
Talvez um outro, em seu lugar, tivesse ficado envaidecido. Mas não ele. Seu coração era muito bom, e ele sofrera muito, antes de alcançar a sonhada felicidade.